Interessante como, hoje em dia, é mais importante mostrar-se fazendo algo, do que fazê-lo em si. As pessoas estão perdendo o prazer no ato pra disfrutar o prazer de ser visto durante o ato, o que por si só já tira
toda a espontaneidade.
Isso, infelizmente, também se espelha pra outros âmbitos da vida. Nesse concurso de ego onde ninguém mede esforços pra aparentar ser mais feliz que o outro, se criam pseudo-artistas, pseudo-pensadores, até mesmo pseudo-escritores, categoria com a qual eu poderia me identificar.
Pseudo-fotografos, uma quantidade incrivel de pseudo-modelos que nada mais são pessoas bonitas que foram tão adoecidas com os conceitos de instagram, que já não conseguem sair de casa sem antes tirar uma selfie.
Como cansa ver mil vídeos de caras e bocas escondidas atrás de um filtro, sem nenhuma intenção a não ser exibir a única coisa que um ser humano não tem mérito algum: o corpo que nasce. E, sim, as vezes eu também me encaixo nessa categoria! É a doença do instagram, e que paradoxo eu
estar postando isso justo aqui.
Hoje em dia não é tão importante ser nada realmente, desde que você possa falar que é e aparentar sê-lo. Quantas pessoas frustradas porque estão rodeadas de acadêmicos e não conseguem uma promoção, ou até no
ambito mais “hippie” ao qual tenho pertencido, quanta gente frustrada por estar rodeada de artistas e artesãos incríveis, pensando que não tem um talento ou um propósito?
Aí que tá. São duas coisas diferentes. E você não ser excepcionalmente bom em algo, não ter nenhum esporte que domina, ou uma arte pra ser esperto, ainda assim você tem um proposito. Porque nosso objetivo maior não é ser
algo. É simplesmente ser. Ser aqui, ser agora, ser feliz, ser consciente.
Porém, com tanto excepcionalismo que vemos a cada esquina hoje em dia, com tanta gente fazendo algo “único” e “incrível” acabamos desviando na estrada do nosso propósito.
Até mesmo na vida de viajante, quantos perfis com textos prontos e palavras chaves, falando sobre o quanto tomaram a melhor decisão de suas vidas e o quanto viajar os tornaram uma pessoa melhor. Mentira. Viajar não te faz uma pessoa melhor. Não necessariamente. Ser vegano não te faz uma pessoa melhor. Fazer yoga, ir pra igreja, não te faz uma pessoa melhor. Tudo isso só satisfaz seu ego, mas dificilmente se reflete nas suas atitudes.
E isso se nota nos muitos mochileiros que encontramos por aí que enchem a boca pra falar do quanto viajam há anos de carona e sem dinheiro, como se estivessem numa competição com eles mesmos. Se creem livres e desapegados, mas julgam aqueles que dizem viver uma vida fútil e infeliz. Sem perceber que isso também os faz escravos, mas do seu próprio ego.
Eu quero tentar julgar menos, ser melhor que ontem. Ver o nascer do sol as vezes, me alimentar bem. Não vou ter meus textos publicados, não vou
virar fotografa e muito menos blogueira de viagem. Aquela menina que queria fazer grandes coisas, encontrou a felicidade em fazer algo tão pequeno que é viver um dia de cada vez.