Aos 26 anos já tive a oportunidade de ir a vários países, mas nunca entendi quando me questionavam qual o meu preferido. Cada um sempre me pareceu especial de sua maneira.
Isso foi antes de vir a Índia. Eu sempre soube que seria diferente de tudo, mas achei que isso só se aplicava ao contexto geral do mundo. Não imaginava que se aplicaria, também, ao meu contexto pessoal.
A Índia é única e me conquistou a passos lentos. Nas primeiras semanas, estranhei. Depois, gostei. Hoje, amo esse país!
Provei tantas comidas de rua que não sei o nome e nem se quisesse aprenderia. Metade delas tem batata e a outra metade quase me mata de pimenta mas eu aceito os males pelas vezes que comi coisas tão maravilhosas que me entristece não saber te dizer o que são pra que você prove também.
Olhares tão horríveis direcionados a mim, mas que mudam completamente ao encontrar meu sorriso. A politica própria de negociação que tanto custa entender no começo, se mostrou até que coerente. As vacas dão o toque especial, menos nos dias que elas me olham estranho e, jurando que vão me atacar, eu mudo todo meu caminho.
Eu entendi a falta de cuidado enquanto o outro dorme: faz parte de uma cultura que muitas vezes divide quarto com a família inteira.
Odeio a buzina constante na rua, mas também entendo, hoje, que as vezes não passa de um intento de simpatia ao cumprimentar o outro motorista. Nem só isso: as vezes é até obrigatório, pela regulamentação de transito mesmo.
Entendi que a mitologia e a verdade, na Índia, compartilham o mesmo lado da moeda e jamais me atrevo a perguntar se alguém realmente acredita nessas histórias tão bonitas de deuses e império de macacos.
Entendi o funcionamento dos trens e ônibus e, pessoalmente, são os mais confortáveis e baratos que já vi na vida! Entendi que se limpar com a mão pode ser até mais higiênico que com papel, mas a verdade é que a maioria dos ocidentais não está preparado pra essa conversa. Nem pra muitas outras, algumas delas eu também não estou. Porque esse país vai além de muitos dos limites que conhecemos.
Mas a Índia também reserva a constatação de algo péssimo: que de toda a sujeira, aquela que tanto comentam por ai, a pior de todas, a mais horrível, é a de lidar com nossos próprios julgamentos e preconceitos.