A maior das coragens que me habita não está em pegar trem na Índia sozinha, em pegar carona no México ou andar a noite por aí no Rio de Janeiro.
A maior coragem que me habita não é a de andar com minhas próprias pernas, decidir o meu futuro ou passar meses carregando minha mochila.
Não, acredito sinceramente que a maior coragem que me habita é a de não agradar todo mundo, de não ser gostada e de não se importar.
Convenhamos, nem Jesus agradou todo mundo. Eu com certeza não agrado todo mundo – e nem você. Mas que corajoso é o ato de não mudar nem por um segundo nenhuma parte de si, de fazer exatamente aquilo que você faria, de realmente ser fiel a si mesmo sem medo do que vão pensar?
Algumas vezes na minha vida me encontrei em situações que me pareceram extremamente difíceis se entender. Onde alguém me falava algo, mas fazia diferente na presença do outro. Demorou muito tempo pra eu entender que assumir quem se é realmente demanda grande força de vontade e não é pra qualquer um.
Eu, por exemplo, odeio que me encostem quando não conheço, não amo abraços e, quando não quero conversar, eu aviso na lata. Já acreditei ter que mudar tudo isso em mim. Hoje assumo que tudo isso faz parte do todo e que é melhor entender meus limites do que fingir ter outros.
Acredito no mistério, na reencarnação e no karma. No autoconhecer, na meditação e na medicina alternativa. Mas a verdade é que muito da espiritualidade contemporânea não me convém. Me insiro em alguns contextos onde admitir isso também demanda grande coragem, mas as pessoas mais espiritualizadas que conheci acham isso uma enorme qualidade e me levam a pensar que mais vale ser real do que ser esotérica. Mais vale um filho da puta verdadeiro do que um lobo em pele de cordeiro.
Ser real é existencial. Ser real é a verdade consigo mesmo, com o outro e com o mundo.