Não sou cabelo

Cortaram meu cabelo – sem querer – e de repente senti o peso de todas as minhas palavras de protesto contra padrões impostos.

Chorei pelo cabelo e segui chorando ao constatar tamanho apego. 

-Meu maior medo sou eu – 

Não, eu não faço tudo que prego. Ainda sofro por futilidades. Às vezes tenho dificuldade em distinguir o certo do errado. Sou covarde, por enquanto, vou seguir sendo. Minha coragem está cheia de teorias. 

Não sou cabelo, nem rosto, nem corpo. Não sou minha beleza, não sou minhas estrias, não sou minha carne. Nem pele, nem pelo, nem ossos. Sou poema, sou alma, sou liberdade. 

Cortaram meu cabelo na Índia – o lugar que mais me inspirou, me ensinou, me amou, me odiou. Onde me entendi e pela primeira vez vi tão claramente meu caminho no escuro.

Um presente pra minha alma, pra minha sabedoria, pro meu processo. Um rasgo pra minha obsessão, pra minha autoestima falha. 

Sou amiga das minhas mortes. 

Há muitas mais por vir. 

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